quinta-feira, 30 de junho de 2011

Repo Man

Repo Men - para mim um filme peculiar e com uma história de amor incrível!!
a brasileira Alice Braga está com um desempenho fenomenal, mesmo ao meu jeito!
simples e profunda, sem nunca perder o seu ar sensual e brutalmente envolvente! em Jude Law sente-se a dualidade de sentimentos e o seu lado protetor exacerbado não me deixa indiferente! para mim um dos melhor papeis que já encarnou.
Em português «o Colector» não vou me debruçar de todo sobre o conteúdo do filme e muito menos entrar em pormenores, simplesmente cingir-me-ei ao que sinto quando penso nele..até porque este género de enredo ou se gosta ou se detesta!! 
o verdadeiro conceito do amor, a verdadeira essência da amizade 2 homens, 1 mulher, um destino..acho que está lá tudo independentemente do desenvolvimento do filme, do realismo da estrutura ou da crítica enfadonha de alguns blogueiros!!
o sentimento, o lado verdadeiro sobressai, distingue-se dos demais contos de encantar sobre o amor e a amizade, é um amor e uma amizade levada ao extremo, que ultrapassa tudo, até a mais louca dor, sim dor, dor física, a dor estridente do corpo.
não me interessa a crítica e não me interessa que não entende que quando se ama, ama que quando se gosta, gosta mesmo, gostar sem reservas, sem tabus sem medo de consequências sem medo de arriscar,  apesar dos defeitos do próximo, apesar dos apesares dos maus cheiros das insanidades mentais de cada um...gostar de um amigo ou de um companheiro de vida a dois é a mesma coisa teoricamente falando ou se gosta ou se não gosta e quando gostamos, gostamos mesmo...sem sombra para dúvidas ou entraves!! por isso quem é fanático por aquele gostar sem oposições...recomendo vivamente esta película!! http://www.imdb.com/title/tt1053424/




segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Richard Bach

COmo sei que por mais link's que poste voçes nem vão abri-los, aki vai a tranferencia do poema do Richard:

RICHARD BACH




NÃO HÁ LONGE NEM DISTÂNCIA






«Rae! Muito obrigado pelo convite para a tua festa de anos!

A tua casa fica a milhares de quilómetros da minha, só faço uma viagem por uma boa razão...

e não pode haver melhor que uma festa em honra de Rae. Estou ansioso por estar contigo.



Iniciei a minha viagem no coração do Beija-Flor que tu e eu conhecemos há muito.

Foi simpático como sempre, mas no entanto, quando lhe disse que a pequena Rae estava a crescer e que ia ao seu aniversário e lhe levava um presente, ele ficou confuso.

Voámos juntos em silêncio durante um bom bocado e por fim observou:



«Não compreendo quase nada do que dizes, mas sobretudo não percebo porque dizes que vais à festa.»



«É claro que vou à festa!» disse eu. «qual é a dificuldade de perceber isso?»

Ficou calado; quando chegámos a casa do Mocho disse:

«Poderão os quilómetros separar-nos dos nossos amigos?

Se queres estar junto de Rae não estarás já lá?»




«A pequena Rae está a crescer; vou ao aniversário dela e levo-lhe um presente», disse eu ao Mocho.





Era estranho dizer vou, depois da conversa com o Beija-Flor, mas mesmo assim disse-o, para que o Mocho pudesse compreender. Também ele voou em silêncio durante um bocado. Foi um silêncio amigável. Quando me pousou são e salvo em casa da Águia, disse:



«Não percebo nada do que dizes, mas sobretudo não percebo porque chamas pequena à tua amiga.»




«É evidente que é pequena», disse eu. «Ainda não cresceu. Que dificuldade há em perceber isso?» O Mocho mergulhou em mim o seu profundo olhar de âmbar, sorriu e disse: «Medita sobre isso.»




«A pequena Rae está a crescer; vou ao aniversário dela e levo-lhe um presente», disse eu à Águia. Agora era estranho dizer vou e pequena, depois das conversas com o Beija-Flor e com o Mocho, mas mesmo assim disse-o para que a Águia compreendesse.



Juntos voamos sobre as montanhas e planámos ao sabor dos ventos das altitudes. Por fim, ela disse: «Não compreendo quase nada do que dizes, mas sobretudo não percebo essa palavra, aniversário.»



«Aniversário, claro», disse eu. «Vamos celebrar a hora em que Rae nasceu e antes da qual ela ainda não existia. Que dificuldade há em perceber isso?»



A Águia colocou as suas asas na posição de voo de mergulho e fez uma aterragem suave na reia do deserto. «Uma época anterior à vida de Rae? Não te parece que a vida de Rae começou antes de o tempo existir?»





«A pequena Rae está a crescer; vou ao aniversário dela e levo-lhe um presente», disse eu ao Falcão. Parecia-me estranho dizer vou, pequena e aniversário, depois da conversa com o Beija-Flor, o Mocho e a Águia, mas disse-o mesmo assim, para que Falcão compreendesse.



Lá em baixo o deserto deslizava distante; por fim ele disse:

«Sabes, não compreendo nada do que dizes, mas sobretudo não percebo o que queres dizer com crescer.»



«Crescer, claro», disse eu. «Rae é quase adulta, afastou-se mais um ano da infância. Que dificuldade há em perceber isso?»



Finalmente o Falcão aterrou numa praia solitária. «Afastou-se mais um ano da infância? Não me parece que isso seja crescer!» Elevou-se no ar e partiu.




Sabia que a gaivota era muito sensata. Quando voava com ela pensei muito e escolhi as palavras, para que quando as pronunciasse ela percebesse que eu tinha aprendido alguma coisa. «Gaivota», disse eu por fim, «porque me levas a ver Rae, se sabes que na realidade já me encontro junto dela?»



A Gaivota curvou sobre o mar, sobre os montes, sobre as ruas e pousou delicadamente no cimo do teu telhado. «Porque o mais importante», disse, «é que tu conheças essa verdade. Até te aperceberes dela, até a compreenderes inteiramente, apenas a podes demonstrar com coisas pequenas e com ajuda exterior de máquina, pessoas e pássaros. Mas lembra-te», continuou ela: «o facto de não ser reconhecida, não faz com que a verdade deixe de ser verdadeira.» E partiu.




Agora é altura de abrires o teu presente. Prendas de metal e vidro gastam-se num dia e desaparecem. Tenho uma melhor para ti.



É um anel que tu podes usar. Cintila com uma luz especial e ninguém o pode roubar; não pode ser destruído. És a única pessoa do mundo que pode ver o anel que te dou hoje, tal como eu era o único que o podia ver, quando era meu.



O teu anel dá-te um novo poder. Quando o usares, podes subir nas asas de todos os pássaros que voam - podes ver pelos seus olhos dourados, acariciar o vento que sopra através das suas penas de veludo, conhecer a alegria de te elevares sobre o mundo e as suas preocupações. Podes ficar no céu todo o tempo que quiseres, tanto durante a noite como durante a alvorada; quando quiseres voltar cá a baixo, as tuas perguntas terão resposta e as tuas preocupações terão desaparecido.



Como tudo o que não pode ser tocado pela mão, nem pode ser visto pelos olhos, o teu presente tornar-se-á mais poderoso à medida que o fores usando. A princípio só conseguirás utilizá-lo quando estiveres ao ar livre e vires o pássaro com quem voas. Mais tarde, se o usares bem, funcionará mesmo com pássaros que não consigas ver e finalmente descobrirás que não tens necessidade do anel nem do pássaro para os teus voos solitários sobre o silêncio das nuvens. Quando esse dia chegar, deves dar a tua prenda a alguém que a use bem e que compreenda que as únicas coisas que contam são as coisas feitas de verdade e de alegria e não as de metal e de vidro.



Rae, este é o último dia especial, de festa, que passarei contigo, depois de ter aprendido tudo isto com os nossos amigos, os pássaros. Não posso partir para estar contigo, porque já aí estou. Não és pequena, porque já cresceste, brincando em cada uma das tuas vidas, pelo prazer de viver, como todos nós.



Não tens aniversário porque sempre viveste; nunca nasceste e nunca morrerás, não és filha daqueles a quem chamas mãe e pai, és o seu companheiro de aventuras na maravilhosa viagem de descoberta de tudo o que existe.



Cada prenda de um amigo é uma esperança na tua felicidade; assim é este anel.



Voa, livre e feliz, para além de aniversários, através da eternidade e encontrar-nos-emos de vez em quando, sempre que quisermos, no meio da única festa que nunca poderá terminar.»















António Aleixo

Uma vez que é pouco divulgado e eu gosto bastante, achei que também irias gostar, ora lê :


Vós que lá do vosso Império

prometeis um mundo novo,
calai-vos, que pode o povo
qu'rer um Mundo novo a sério.


Que importa perder a vida
em luta contra a traição,
se a Razão mesmo vencida,
não deixa de ser Razão





Uma mosca sem valor
Poisa c'o a mesma alegria
na careca de um doutor
como em qualquer porcaria.



qualquer coisa de verdade.
P'ra mentira ser segura
e atingir profundidade

tem de trazer à mistura


São parvos, não rias deles,
deixa-os ser, que não são sós:
Às vezes rimos daqueles,
que valem mais do que nós.



Julgando um dever cumprir,
Sem descer no meu critério,
Digo verdades a rir
Aos que me mentem a sério!


Há luta por mil doutrinas.
Se querem que o mundo ande,
Façam das mil pequeninas
Uma só doutrina grande.



Sei que pareço um ladrão...
mas há muitos que eu conheço
que, sem parecer o que são,
são aquilo que eu pareço.



Sem que discurso eu pedisse,
ele falou, e eu escutei.
Gostei do que ele não disse;
do que disse não gostei.



Morre o rico, dobram sinos;
Morre o pobre, não há dobres...
Que Deus é esse dos padres,
Que não faz caso dos pobres?


O mundo só pode ser
melhor do que até aqui,
quando consigas fazer
mais p'los outros que por tí!


Veste bem, já reparaste?
mas ele próprio ignora
que, por dentro, é um contraste
com o que mostra por fora.



Eu não sei porque razão
certos homens, a meu ver,
quanto mais pequenos são
maiores querem parecer.



Nas quadras que a gente vê,
quase sempre o mais bonito
está guardado pr'a quem lê
o que lá não está escrito.



Vemos gente bem vestida,
No aspecto desassombrada;
São tudo ilusões da vida,
Tudo é miséria dourada.


Os novos que se envaidecem
Pelo muito que querem ser
São frutos bons que apodrecem
Mal começam a nascer.


Para triunfar depressa
cala contigo o que vejas
Finge que não te interessa
aquilo que mais desejas.


Os que bons conselhos dão
ás vezes fazem-me rir
por ver que eles mesmos, são
incapazes de os seguir.