O BAR
…O som entrava no corpo e consumia a mente, sem querer
aquele taberneiro tinha feito a escolha mais acertada da vida dele! E nós o
admirávamos por isso…o ambiente deserto fez disparar a química abrupta que nos
envolvia…e aos poucos senti o teu corpo contra o meu…pleno, firme, numa dança
continua e sem mundo, sem chão, só nós!
A luz sombria que nos envolvia convidava á volúpia, ao
acaso, ao eterno! Aquela guitarra ecoava no mais íntimo de nós…e como nos
prendia!
Sentamo-nos novamente, o barista serve-nos mais uma bebida,
entram mais pessoas e a sala enche-se de vozes, de murmúrios, mas eu só te ouço
a ti. A música dissipa-se no ar e a tua voz envolvente mata-me aos poucos,
deixando-me completamente a latejar e sem forças…sinto que nem o mais forte dos
terramotos desviaria a minha atenção de ti…
Tu não querias ir já para casa e eu não tinha casa para ir,
a envolvência do teu olhar era mais que isso, mais que qualquer casa, que
qualquer teto, e aquele bar era
perfeito..humm…se era!
O vento lá fora sussurra palavras de traição, emana vícios,
limpa rastos….mas nós não queremos ir, nós não somos os outros, nós não somos
nós, somos o tu no eu , somos o que queremos, quando queremos sê-lo…mas o vento
teima em nos levar…sinto a tua mão a puxar-me forte contra ti, a tua boca no
meu pescoço e as tuas mãos firmes na minha cintura, levam-me novamente para
fora da alma, para uma dimensão nunca antes alcançada…e eu rendo-me, e tu
invades-me, aos poucos, lentamente…
Mas…não estamos sozinhos, temos as almas do passado junto a
nós…temos os nossos deuses sempre presentes, enquanto dançamos, enquanto nos
cruzamos, a cada toque a cada afago, eles estão lá…cada pedaço deles está em
ti, está em mim…e os procuras, tu sabes que sim, e eles se manifestam…mas essa
busca incessante te lança na espada e mais uma vez te vergas a ela, e ela te
subjuga! A música não pára, e o dia nasce…o espirito prevalece e nós também…nós
vamos embora, mas a nossa música ficará para todo o sempre!
O espirito é eterno e permanece, sempre…naquele BAR!
a matéria não me
sustenta!